"Música de baixa qualidade". "Superstar". "Artista de mau gosto". "Sexo, drogas e rock'n'roll". "Idolatria juvenil". "Canções de amor". "Sucesso popular". "Hormônios em ebulição". Decifrar um artista pop é como lapidar uma pedra preciosa em que cada polimento revela uma nova superfície. Nelas, é possível ver tudo, céu e inferno numa mesma camada, refletindo as ansiedades de quem vê. Como Elvis, Beatles, Roberto Carlos, James Brown, Ramones, RPM, Madonna, Metallica, Mamonas Assassinas ou Eminem, Odair José também atraiu amor e ódio em sua longa caminhada - cravando sucessos no imaginário popular que até hoje nos ajudam a refletir sobre a natureza de nossos preconceitos.
Nos arquivos oficiais e nas enciclopédias de música, o goiano Odair José não ocupa sequer o espaço de um verbete. Na exceção à regra, "Eu Não Sou Cachorro, Não", livro do baiano Paulo César de Araújo, ganhou um capítulo. Nas pastas da censura militar, é freqüentador assíduo, com letras condenadas por, como lembra o compositor, "cantar o amor da cama, não o do portão". Já na memória auditiva do "Baixo Brasil", onde sua ausência de diploma não o impediu de virar Ph.D. em comportamento e sentimento populares, tem lugar cativo com "Uma Vida Só" (ou "Pare de Tomar a Pílula"), "Eu Vou Tirar Você Desse Lugar" e "Deixa Essa Vergonha de Lado", sucessos do início dos anos 70, quando, depois da fase de seguidor de Roberto Carlos, passou a olhar o Rei de lado, não mais de baixo para cima. Naquele momento, classificado de Bob Dylan da Central do Brasil, também reinava.
O compositor ferveu na fase aquecida da repressão militar e da indústria fonográfica. A venda de discos passou, entre 1970 e 1976, de 25 milhões de unidades para 66 milhões. O consumo de toca-discos também explodiu no período. Isso significa que as classes C e D, antes adeptas sobretudo do rádio, passaram a ser compradoras de LPs. E ajudaram na consagração de muitos intérpretes e cantores de fora do panteão da MPB e do tropicalismo.
Odair nasceu em Morrinhos, Goiás, e foi crooner de banda na adolescência, em Goiânia, até conhecer Roberto Carlos, aos 18 anos, em 1967, nos bastidores de um baile em que ambos cantaram. Estimulado pelo ídolo, que é uma de suas principais referências assumidas (ao lado de Altemar Dutra, Anísio Silva e Peter Frampton), mudou-se para o Rio de Janeiro. Sem dinheiro, morou na rua. Foi abrigado pelo compositor Ataulfo Alves, sobreviveu como cantor de boate, conviveu com o sambista Zé Ketti, conheceu a dor da gente simples. A partir de 1970, emendou sucessivas gravações, ganhou o mercado latino, injetou guitarras e pianos incomuns para suas derivações do bolero, foi vaiado com Caetano Veloso em um show (o Phono 73) no qual dividiram o palco e montou uma inventiva e fracassada ópera-rock.
Suas letras, dotadas de realismo direto, nasceram da experiência inicial no Rio. "Amadureci um ano em um dia ao observar a vida das pessoas com quem convivia no centro e na Lapa", lembra, com seu ar tímido e olhar tristonho, expressão de um assumido estado de solidão e melancolia. "Não sou compositor, mas um observador. Meus assuntos existem, não preciso inventá-los. Eu apenas faço música com a vida alheia e ela às vezes é dolorida", filosofa.
O historiador Paulo César de Araújo, autor do livro "Eu Não Sou Cachorro, Não", sobre os vetos dos militares aos compositores rotulados de bregas, trata Odair como transgressor. Em um momento de repressão, ele não teve papas na língua. Suas letras foram vetadas por tratar de sexo ("Em Qualquer Lugar": A gente ama até demais/e quando tem um grande amor/a gente faz em qualquer lugar), de drogas ("Viagem": Venha comigo em minha viagem/não se preocupe/eu tenho as passagens), homossexualidade ("Forma de Sentir": Sei que és entendido e vais entender/que eu entendo e aceito tua forma de amor) e religião ("Cristo, Quem É Você?": Lhe procurei/fui à sua casa/mas lá não lhe encontrei). Nenhuma metáfora.
Nenhuma canção de seu repertório repercutiu tanto quanto "Uma Vida Só", ou "Pare de Tomar a Pílula" (Pare de tomar a pílula/porque ela não deixa nosso filho nascer). A letra caiu na boca do povo, mas chegou a ser proibida por algum tempo, por contrariar o governo. "O regime militar patrocinava a entidade Bemfam, que desenvolvia campanha de controle de natalidade nas famílias de baixa renda, e se empenhava na farta distribuição de anticoncepcionais", escreve Araújo em "Eu Não Sou Cachorro, Não". O cantor desobedeceu à proibição em shows, a pedido do público, e foi parar na delegacia por atender o povo. Odair liderou a lenta transfomação do pudor brasileiro nos anos 70 (acompanhado pelas pornochanchadas, pelo jornal Pasquim, e por Leila Diniz), ao mesmo tempo que dominava as ondas do rádio e lhe imputavam o título de "cantor das empregadas domésticas", como se isso fosse um demérito.
Aprisionado nas últimas duas décadas na cela pulverizante do brega, Odair está virando cult para uma nova geração vacinada contra elitismos redutores, que não fica cega e surda para manifestações não consumidas pela elite. O tributo Vou Tirar Você Desse Lugar (título de seu histórico compacto, sucesso fenomenal em 1972), com 22 músicas gravadas por ele interpretadas por artistas do cenário pop e rock atual, foi lançado em agosto de 2005 acendendo velas para ressuscitá-lo do limbo mercadológico.
Fontes: Revista Bizz (Alexandre Matias, Abril de 2006) e Revista Época ("Do brega às cabeças", Cléber Eduardo, Junho de 2005).
Faixas:
01 Deixe essa vergonha de lado
02 Os anjos
03 Eu, você e a praça
04 E ninguém liga pra mim
05 De repente
06 Uma vida só [Pare de tomar a pílula]
07 Revista proibida
08 Eu sinto pena e nada mais
09 As noites que você passou comigo
10 Quem é esse rapaz?
11 Cade você?
12 Que saudade de você
linque
Nos arquivos oficiais e nas enciclopédias de música, o goiano Odair José não ocupa sequer o espaço de um verbete. Na exceção à regra, "Eu Não Sou Cachorro, Não", livro do baiano Paulo César de Araújo, ganhou um capítulo. Nas pastas da censura militar, é freqüentador assíduo, com letras condenadas por, como lembra o compositor, "cantar o amor da cama, não o do portão". Já na memória auditiva do "Baixo Brasil", onde sua ausência de diploma não o impediu de virar Ph.D. em comportamento e sentimento populares, tem lugar cativo com "Uma Vida Só" (ou "Pare de Tomar a Pílula"), "Eu Vou Tirar Você Desse Lugar" e "Deixa Essa Vergonha de Lado", sucessos do início dos anos 70, quando, depois da fase de seguidor de Roberto Carlos, passou a olhar o Rei de lado, não mais de baixo para cima. Naquele momento, classificado de Bob Dylan da Central do Brasil, também reinava.
O compositor ferveu na fase aquecida da repressão militar e da indústria fonográfica. A venda de discos passou, entre 1970 e 1976, de 25 milhões de unidades para 66 milhões. O consumo de toca-discos também explodiu no período. Isso significa que as classes C e D, antes adeptas sobretudo do rádio, passaram a ser compradoras de LPs. E ajudaram na consagração de muitos intérpretes e cantores de fora do panteão da MPB e do tropicalismo.
Odair nasceu em Morrinhos, Goiás, e foi crooner de banda na adolescência, em Goiânia, até conhecer Roberto Carlos, aos 18 anos, em 1967, nos bastidores de um baile em que ambos cantaram. Estimulado pelo ídolo, que é uma de suas principais referências assumidas (ao lado de Altemar Dutra, Anísio Silva e Peter Frampton), mudou-se para o Rio de Janeiro. Sem dinheiro, morou na rua. Foi abrigado pelo compositor Ataulfo Alves, sobreviveu como cantor de boate, conviveu com o sambista Zé Ketti, conheceu a dor da gente simples. A partir de 1970, emendou sucessivas gravações, ganhou o mercado latino, injetou guitarras e pianos incomuns para suas derivações do bolero, foi vaiado com Caetano Veloso em um show (o Phono 73) no qual dividiram o palco e montou uma inventiva e fracassada ópera-rock.
Suas letras, dotadas de realismo direto, nasceram da experiência inicial no Rio. "Amadureci um ano em um dia ao observar a vida das pessoas com quem convivia no centro e na Lapa", lembra, com seu ar tímido e olhar tristonho, expressão de um assumido estado de solidão e melancolia. "Não sou compositor, mas um observador. Meus assuntos existem, não preciso inventá-los. Eu apenas faço música com a vida alheia e ela às vezes é dolorida", filosofa.
O historiador Paulo César de Araújo, autor do livro "Eu Não Sou Cachorro, Não", sobre os vetos dos militares aos compositores rotulados de bregas, trata Odair como transgressor. Em um momento de repressão, ele não teve papas na língua. Suas letras foram vetadas por tratar de sexo ("Em Qualquer Lugar": A gente ama até demais/e quando tem um grande amor/a gente faz em qualquer lugar), de drogas ("Viagem": Venha comigo em minha viagem/não se preocupe/eu tenho as passagens), homossexualidade ("Forma de Sentir": Sei que és entendido e vais entender/que eu entendo e aceito tua forma de amor) e religião ("Cristo, Quem É Você?": Lhe procurei/fui à sua casa/mas lá não lhe encontrei). Nenhuma metáfora.
Nenhuma canção de seu repertório repercutiu tanto quanto "Uma Vida Só", ou "Pare de Tomar a Pílula" (Pare de tomar a pílula/porque ela não deixa nosso filho nascer). A letra caiu na boca do povo, mas chegou a ser proibida por algum tempo, por contrariar o governo. "O regime militar patrocinava a entidade Bemfam, que desenvolvia campanha de controle de natalidade nas famílias de baixa renda, e se empenhava na farta distribuição de anticoncepcionais", escreve Araújo em "Eu Não Sou Cachorro, Não". O cantor desobedeceu à proibição em shows, a pedido do público, e foi parar na delegacia por atender o povo. Odair liderou a lenta transfomação do pudor brasileiro nos anos 70 (acompanhado pelas pornochanchadas, pelo jornal Pasquim, e por Leila Diniz), ao mesmo tempo que dominava as ondas do rádio e lhe imputavam o título de "cantor das empregadas domésticas", como se isso fosse um demérito.
Aprisionado nas últimas duas décadas na cela pulverizante do brega, Odair está virando cult para uma nova geração vacinada contra elitismos redutores, que não fica cega e surda para manifestações não consumidas pela elite. O tributo Vou Tirar Você Desse Lugar (título de seu histórico compacto, sucesso fenomenal em 1972), com 22 músicas gravadas por ele interpretadas por artistas do cenário pop e rock atual, foi lançado em agosto de 2005 acendendo velas para ressuscitá-lo do limbo mercadológico.
Fontes: Revista Bizz (Alexandre Matias, Abril de 2006) e Revista Época ("Do brega às cabeças", Cléber Eduardo, Junho de 2005).
Faixas:
01 Deixe essa vergonha de lado
02 Os anjos
03 Eu, você e a praça
04 E ninguém liga pra mim
05 De repente
06 Uma vida só [Pare de tomar a pílula]
07 Revista proibida
08 Eu sinto pena e nada mais
09 As noites que você passou comigo
10 Quem é esse rapaz?
11 Cade você?
12 Que saudade de você
linque
14 comentários:
ai garoto valeu pelo uploud...
n ta facil de de fazer ou baixar de qualquer forma valeu amigo obrigaduuuuuu
Não entendi... O link esta funcionando perfeitamente.
É só clicar no primeiro "Download link" e aguardar...
Abraço!!
Ola amigo eu queria lhe dizer no comentario anterior, é q ele abre até e n encontra destino por isso
pode estar com problema o site n é possivel encontrar destino isso da como pagina n encontrada já tentei varias vezes e n consegui valeu pela resposta obrigaduuuu..
Fera se vc puder postar mais discos dele ficaria mto grato. Se possivel na sequencia de ano de lançamento, ok? Ou da forma q vc achar melhor.
Grato amigo!
Caraca amigo, esse blog é massa, mais q pena q eu não consegui baixar o cd de 1973, o link está expirado ou coisa parecida. vlw, se puder postar denovo ficarei muito agradecido.
vc cantou a minha vida cara obrigado
Olá add mau blog
na sua lista também
de blogs
http://naqueletempobom.blogspot.com/
Odair José, suas músicas fizeram parte da minha vida. Como esquecer?
Amo sua simplicidade, seu jeito se levar a vida...., suas músicas....
Enfim, que saudade de vocÊ...
valterlias-avaré sp olha sou fã do odair josé ele canta a vida o amor. gostaria de saber se alguem tem aquela musica que ele fez pra rosemary. ele canta assim... rose rose rose rosemary abraço o meu travesseiro pensando em você. se alguem tiver por gentileza enviem no meu email valterlias@hotmail.com. já procurei na internet toda e nao achei abraço a todos
odair jose .olha ta ai um cantor que ja abalou muitos coraçoes por esse mundao principalmente o meu nesse messe mundo de meu deus ele e muito bom..me lembro das musicas dele de 1973 nossa como eu gostaria de ter todas a quelas musica hoje curti muito tinha uma musica que dizia assim[hoje vc ja nao me quer mais compreendo pos sei tudo mudo no passado seu amor foi emportante vc hoje esta distante naao se lembra mais de mim] algem sabe o nome dessa musica
Apenas respondendo ao amigo aí de cima, o nome da música é "As noites que você passou comigo", aliás, incluída até hoje no repertório do ídolo... vá ao show que é muito bom. Aliás, acesse o site oficial dele e veja quando vai cantar aí na sua cidade... descobri outro dia por acaso: www.odairjoseoficial.com.br
Abs
Penso que as músicas de Odair José faz parte da vida de todos que se enamoraram lá na decada de 70!!!! Eu por exemplo vivi meu 1º amor ouvindo as músicas do Odair!!!!
Esse cara é foda!!!
tenho 45 anos. sou músico, e sempre achei esses caras que o pessoal rotulava de bregas...
como feras!!!
kkkk..
isso sim, é o que esses caras são!!!
feras!!!!
Das Antigas... Excelente trabalho ,véio. Curto Odair desde a muito e venho repetindo a tempos o que vc colocou nestas linhas " O cara é desbravador ,um artista desbravador"
muito grato pelas preciosas informações seguirei teu blog continua mandando véio !!!
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