Ele sempre se auto-intitulou “um paraense autêntico”, desses que amam e exaltam a beleza de sua terra natal, mesmo estando distante dela. Esteve ao lado de grandes nomes da música nacional e, em 1972, chegou a superar o rei Roberto Carlos em vendas de discos, nas regiões Norte e Nordeste. Dada a dica e se você pensou e respondeu Osvaldo Oliveira ou, simplesmente, Vavá da Matinha, está certíssimo. Mas, se nunca ouviu falar desse grande artista, não caia no desânimo. Você vai conhecer, nessas linhas, um dos precursores da música brega paraense e o responsável por abrir o caminho do sucesso para tantos cantores e bandas conhecidas, como a Calypso, por exemplo.
Cantor e compositor, Vavá da Matinha (apelido dado pelo amigo e saudoso radialista Eloy Santos), 75, começou a carreira cantando em programas de auditório da Rádio Clube do Pará, no final da década de 1950. Daí, ganhou notoriedade e o Brasil. Era considerado o Jackson do Pandeiro do Pará, só que seus ritmos tinham um balanço diferente de qualquer influência baiana ou carioca. Mais uma prova de sua autenticidade musical, presente em canções cheias de referências às coisas da terra, às crenças, às comidas, ao Ver-o-Peso e ao bairro onde nasceu, a Matinha, hoje bairro de Fátima. “Pará e Bahia”, “A Beleza da Rua” e “O Canto do Galo” são algumas das obras bairristas dele que fizeram grande sucesso. “Gravei pelo menos sessenta e quatro músicas exaltando o Pará e acho que talvez tenha sido o cantor que mais falou desse Estado em suas canções. Enquanto baianos como Dorival Caymmi exaltam a Bahia, eu exalto o Pará. Morro defendendo o meu Estado”, disse em entrevista há três anos para a TV Cultura. Aliás, um de seus últimos depoimentos gravados, desde que fixou residência em Fortaleza (CE). Vavá da Matinha só voltou a aparecer na imprensa recentemente, devido ao seu estado de saúde debilitado. Vavá começou sua carreira cantando forró, mas foi com o bolero (uma espécie de embrião do brega) que ganhou fama nos anos de 1970. Vendeu muitos discos, foi o primeiro cantor a gravar um merengue com letra (“A Deusa do Mercado São José”) e teve muitas de suas composições gravadas por gente como Jackson do Pandeiro, Bezerra da Silva e o forrozeiro Abdias.
O primeiro registro musical do artista aconteceu em 1960, com a gravação de duas músicas numa coletânea da gravadora Continental. No ano seguinte, gravou um disco “compacto” e o primeiro LP “Eternas Lembranças do Norte”, com quatro composições e a maioria das músicas no ritmo do forró. A propósito, o cenário musical da época evidenciava artistas como Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro e Vavá fazia parte disso. Ele também esteve na caravana do forró percorrendo o Brasil, juntamente com Marinês, Messias Holanda, Trio Nordestino e outros.
Na sequência, vieram mais três LPs pela gravadora CBS. Mas foi em 1972 que Vavá da Matinha estourou de vez. A música “Só Castigo”, do disco de boleros com o mesmo título, fez o cantor ultrapassar em vendas Roberto Carlos, nas regiões Norte e Nordeste. O sucesso foi tamanho que abriu caminho para outros bregueiros que se tornariam verdadeiras estrelas, como o pernambucano Reginaldo Rossi.
A trajetória de Vavá seguiu adiante na década de 1970, com o lançamento de vários discos de bolero, mas começou a estancar e cair no ostracismo a partir dos anos de 1980. O artista se refugiou em Castanhal (PA) e depois Fortaleza (CE), vindo a Belém (PA) esporadicamente. Atualmente, faz tratamento na capital paraense, onde se recupera de um AVC. Sem empresário e sem recursos, antes de adoecer, Vavá aceitava realizar shows por cachês não dignos para sua grandeza musical.
(Fonte: Diário do Pará.)
Nota: Osvaldo Oliveira faleceu no dia 31 de março de 2010, em razão de complicações de um acidente vascular cerebral, agravado por pneumonia e arritmia cardíaca.
Faixas:
01 Só Castigo
02 Lá Vem Maria (La Mecha)
03 A Deusa Do Mercado São José
04 Conselho Amigo
05 Ninguém Segura O Nosso Amor
06 Mulher
07 A Dor E A Separação
08 Merengue Brasileiro (Cada Tierra Con Su Ritmo)
09 A Gaiola E O Canário (Las Cotorras)
10 Criola
11 Dançando Merengue (Goza Negra)
12 Amor De Minha Vida
13 Mal Acostumado
14 É Com Jeitinho
15 Blefe Fatal
16 Aqui Se Faz, Aqui Se Paga
17 Minha Companheira Solidão
18 A Culpada É Você
19 Deixa Esta Vida
20 Pra Ninguém Dormir
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